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O aumentou foi de 66,2%, a maior taxa da série histórica desde 2010
Publicado em 30/03/2020 - 16:07 Por Alana Gandra - Repórter da Agência Brasil - Rio de Janeiro
A Pesquisa de
Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), divulgada nesta segunda-feira (30/03/2020)
pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo
(CNC), mostrou que o total de famílias com dívidas no Brasil voltou a
crescer em março, depois de um recuo em fevereiro (65,1%), atingindo
66,2%, maior taxa da série histórica iniciada em janeiro de 2010.
O recorde havia sido registrado em dezembro
do ano passado (65,2%). “O resultado extrapolou o percentual de
dezembro e registrou o maior nível da série histórica”, disse à Agência Brasil
a economista da CNC, responsável pela pesquisa, Izis Ferreira. Ela
avaliou que a pandemia de coronavírus vai contribuir para elevar o grau
de endividamento das famílias nos próximos meses e, também, a
inadimplência.
A pesquisa foi feita com 18 mil famílias de
todas as capitais do país, incluindo o Distrito Federal, no período
de 20 de fevereiro e 5 de março. O aumento do endividamento
vinha atrelado ao avanço do crédito, e isso podia ser observado pelo
aumento no estoque do crédito para pessoas físicas e jurídicas, aumento
nas concessões, redução do custo do crédito, facilitação nas condições.
“Isso fez com que o nível de endividamento chegasse nessa maior
proporção da série histórica”, disse a economista.
Segundo a coordenadora da pesquisa, as taxas
de juros no cartão de crédito ainda são muito altas, o que representa
um custo elevado para o consumidor. Mas o custo vinha em sentido
decrescente nos últimos meses. “Isso fazia com que as pessoas retomassem
o consumo por meio do crédito.”
Crédito no cheque especial, crédito
consignado, financiamento de imóveis e de carros são os itens que mais
têm crescido nos últimos meses, apesar de o cartão de crédito ainda
aparecer como a maior proporção do endividamento. “Mas o endividamento
pelo cartão de crédito não está crescendo tanto quanto nos outros tipos
de dívidas”, afirmou a economista da CNC. O financiamento de casa e de
veículos apresentaram as maiores taxas de expansão nos últimos meses.
Liquidez
De acordo com a economista, o endividamento
maior vinha sendo apoiado no aumento do mercado de crédito. O que ocorre
é que isso faz com que o espaço das famílias muito endividadas para
ampliar esse crédito é menor neste momento.
O esforço do Banco Central para aumentar a
liquidez no mercado e oferecer mais crédito esbarra em uma proporção já
alta de pessoas endividadas. Por meio desses dados, a CNC percebeu a
necessidade de ajudar as pessoas que já estão endividadas, seja
ampliando os prazos de pagamento dessas dívidas, seja reduzindo ainda
mais o custo, trocando uma dívida cara por outra mais barata.
Isso pode envolver uma conscientização do
sistema bancário/financeiro, para que o risco de inadimplência seja
assumido, para que as famílias possam sair dessa armadilha do
endividamento alto com inadimplência também alta”, disse a economista.
Inadimplência
A pesquisa da CNC mostra que a inadimplência
também aumentou nos dois níveis. O percentual de famílias com dívidas
ou contas em atraso subiu de 24,1%, em fevereiro, para 25,3% em março.
Já o total de famílias que declararam não ter condições de pagar suas
contas ou dívidas em atraso nos próximos meses e que permaneceriam
inadimplentes, passou de 9,7%, em fevereiro, para 10,2%, em março. Os
dois indicadores estão crescendo proporcionalmente ao número de famílias
pesquisadas na mostra.
Izis avaliou que, com o aumento do
endividamento, é natural que a inadimplência também aumente. Ela
destacou, contudo, que no cenário crítico que o país atravessa, com a
pandemia de coronavírus, a inadimplência provavelmente vai começar a
crescer mais nos próximos meses, menos em função do crescimento do
endividamento e mais em função das dificuldades que essas pessoas vão
encontrar para pagar suas contas e dívidas em dia.
“A renda vai estar muito restrita e as
expectativas de confiança para o futuro dos consumidores já está sendo
abalada. As famílias vão restringir ao máximo o consumo que não for
essencial”.
A restrição na rendatambém pode fazer com
que as decisões de tomada de crédito de longo prazo sejam adiadas, por
um temor em relação a emprego e renda no futuro.
“O que vai fazer com que a inadimplência
siga se acirrando é justamente a dificuldade que as famílias vão
encontrar, principalmente aquelas com renda menor, para pagar suas
dívidas e contas em dia, nesse contexto de insegurança em relação à
renda e ao emprego”.
Pandemia
A pandemia do novo coronavírus levou a CNC a
prever o acirramento da inadimplência no país. “A crise do coronavírus é
que está sendo imperativa para que as pessoas encontrem maior
dificuldade hoje em dia.”
A pesquisa evidencia aindaque a capacidade
de pagamento pode ser medida pela parcela da renda comprometida com
dívidas. Essa parcela chegou a 30% em março. Isso acaba dificultando
o consumo. O índice significa que um terço da renda das famílias já está
comprometida com dívidas. Para contrair novas dívidas e ampliar o
consumo no momento, a pessoa esbarra na questão da capacidade de
pagamento.
Outro detalhe da pesquisa é que aumentou a
proporção de famílias que estão com mais de 50% da renda comprometidos
com dívidas. Significa que o consumo dessas pessoas está restrito.
A proporção de famílias com contas em atraso
teve em março o maior nível dos últimos 12 meses, da ordem de 25,3%,
depois de registrar 24,1%, em fevereiro, e 23,8%, em janeiro.
Do mesmo modo, o percentual das famílias que
dizem não ter condições de pagar dívidas ou contas em atraso e vão
continuar inadimplentes também subiu de 9,6%, em janeiro, para 9,7%, em
fevereiro, e para 10,2%, em março. A proporção das famílias que se
declararam muito endividadas aumentou de 15% em fevereiro para 15,5% em
março, além de ter sido registrada a alta de 2,5% na comparação anual.
Tendência ascendente
“Apesar de falar, nos últimos meses, que a
trajetória da inadimplência não vinha se mostrando explosiva, agora já
podemos dizer que há uma tendência ascendente da inadimplência, em
função dessa crise que está restringindo o consumo e vai restringir a
renda mais para a frente”, apontou Izis Ferreira.
O cartão de crédito continua sendo a dívida
mais frequente, tanto para famílias de renda inferior a dez
salários-mínimos, como para aquelas que ganham acima disso. Em março,
esse tipo de dívida registrou 78,4%, seguido por carnês (16,2%) e por
financiamento de veículos (10,3%).
A economista da CNC afirmou que, embora
ainda seja o principal tipo de dívida das famílias, o cartão de crédito
está perdendo espaço para outros tipos, como dívidas em carnês, em
cheque especial, em crédito consignado, por exemplo. [
Izis Ferreira disse que a velocidade de
crescimento desses outros tipos de dívida está maior do que a do cartão
de crédito, porque as pessoas vinham trocando uma dívida mais cara por
dívidas mais baratas.
A mudança das regras para dívidas em cartão
de crédito, promovida recentemente pelo Banco Central, favoreceu também
essa troca de dívida. Apesar disso, o cartão de crédito segue
representando o principal tipo de endividamento das famílias, com 78,4%
em março, mas as taxas de crescimento dos outros tipos de dívida têm se
mostrado maiores, indicou a economista da CNC.
Fonte: Agência Brasil
POSTADO POR: REPÓRTER, RADIALISTA E BLOGUEIRO PAULO MACIEL, DE
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