16/04/2014 -
O ator colatinense Joelson Gusson agendou visita a Colatina neste feriadão, para descansar por duas semanas, e matar as saudades da família e dos amigos. Ele vem à terra natal depois de oito meses de trabalho na TV, e de inúmeros trabalhos em teatro.
Joelson, 44 anos, vive no Rio de Janeiro há mais de 20 anos, e atuou como o Mordomo Laerte, que trabalhava na casa do empresário Ernest Hauser (personagem de José de Abreu), na novela Joia Raia, exibida às 18 horas, na TV Globo, que terminou recentemente.
Ele contou que estava em cartaz com sua última peça “As Horas entre nós”, quando foi convidado para fazer a novela. “Estava tão cansado que só falava que ia tirar férias quando acabasse a temporada, que acabou no dia 15 de julho. E aí comecei a gravar Joia Rara no dia 16”, afirmou.
O ator participou da maioria dos capítulos, fazendo muitas aparições. E no último capítulo, os colatinenses que assistiram à novela viram que seu personagem teve um desfecho de “final feliz”, emplacando um romance com uma também serviçal da família Hauser.
Sobre a peça, ele disse que a montagem era seu sonho há sete anos. Adaptou e dirigiu, influenciado pelo filme de longa metragem de 2002, “As Horas”, dirigido por Stephen Daldry e com Maryl Streep, Nicole Didman e Juliane Moore no elenco.
“É uma reeleitura da obra de Virgínia Woolf, para o período da reabertura política após a Ditadura Militar e ganha ares brasileiros, ambientada no Rio dos anos 70. Em cena, também Cristina Flores (idealizadora do projeto), Carolina Ferman, Cris Larin, Leonardo Corajo e Lucas Gouvêa”, explicou.
Trajetória
Joelson, chegou no Rio nos anos 90 e começou atuar em teatro, após muitas tentativas em se firmar em outras áreas. Desde 2004 tem a sua própria companhia, a Dragão Voador, onde, juntamente com alguns companheiros, criou sete espetáculos e “trabalha intensamente”, como ele mesmo diz. Um deles, inclusive “Manifesto Ciborgue”, já foi apresentado noFour Days Festival, na cidade de Praga (República Tcheca) em 2011, no Sacred Festival em Londres em 2012 e no Festival Internacional de Teatro de Valladollid (Espanha), no ano passado.
Também é diretor artístico do Projeto Entre, em Residências artísticas, no Teatro Sérgio Porto (2010 a 2014), e curador do Projeto Entre Lugares, projeto de Residências artísticas entre as cidades de Praga, Londres, Lisboa, Buenos Aires e Rio de Janeiro. Há três anos faz aparições curtas na TV.
Escreve para uma revista de crítica inglesa chamada Totaltheatre Magazine e também é jurado do prêmio Total Theatre Awards. “Como escrevo para a revista e sou jurado, costumo ir a Edimburgo, na Escócia, no mês de abril, para assistir ao festival de lá que é o maior do mundo. São 2.500 peças apresentadas em 25 dias. Uma loucura! A gente assiste mais ou menos cinco peças por dia para escrever sobre elas”, explica.
A ida para o Rio ocorreu após muitas andanças pelo Espírito Santo e Minas Gerais, tentando ingressar em outras profissões. Ocorreu com a certeza que seu futuro era a dramaturgia. Ele revelou que depois de ter retornado de uma delas e estar morando em Colatina, um dia, ao ver uma coluna social do jornal A Gazeta, viu um anúncio de um curso no Rio e resolveu fazer.
“Era um curso de um mês, totalmente caça-níqueis, mas eu não sabia nada. Fiz e pensei: Se eu não entrar em uma escola de teatro agora, eu vou ficar mais um ano sem saber o que fazer. Tomei muita coragem, liguei para casa e disse que iria me inscrever na CAL (Casa de Artes de Laranjeiras) que naquele momento era o principal celeiro de novos talentos do Rio.
Em 1999 dirigiu a sua primeira peça, “Os Colecionadores”, que o fez entender que se quisesse ser mesmo um diretor, precisaria antes ser um bom ator. “Então eu guardei a minha vontade de dirigir e fui trabalhar com vários diretores. Sou muito versátil, trabalhava em várias áreas. Fui aderecista, figurinista, cenógrafo, diretor de palco, assistente de direção, e várias outras coisas que me deram mais experiência”, lembrou.
Depois, foi trabalhar na companhia de Gerald Thomas, diretor de teatro brasileiro com carreira internacional, onde ficou por três anos. Trabalhou como assistente de direção da ópera Tristão e Isolda, dirigida por Thomas, no Teatro Municipal do Rio (2003) e como ator em vários espetáculos da Companhia da Ópera Seca, criada por Thomas. Em seguida, foi para a Europa apresentando espetáculos, e em 2004 achou que já tinha chegado a hora de voltar a dirigir. E foi o que fez, sem abandonar o trabalho de ator.
Joelson é formado em Teoria do Teatro pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (Unirio). Em 2007 recebeu o Prêmio “Myriam Muniz”, concedido pela Funarte (Fundação Nacional de Arte) e Petrobras, pela criação e produção do espetáculo “O Que nos Resta é o Silêncio”. Dirigiu em 2008 e 2009, juntamente com Daniela Amorim e Raquel Rocha, a ocupação do Teatro Gláucio Gil, “Operação Orquestra Improviso”, englobando dois coletivos artísticos, “o Coletivo Improviso” e o “Pequena Orquestra”.
Em 1998 fundou a Companhia Dragão Voador Teatro Contemporâneo, tendo dirigido todos os espetáculos do grupo até então: Os Colecionadores (1998/1999), As Criadas (2004/2005), O que Nos Resta é o Silêncio (2005/2007), Manifesto Ciborgue (2007/2008), Paisagem Nua (2011) e Amérika! (2012).
É um dos criadores do grupo Coletivo Improviso, dirigido por Enrique Diaz, participou da criação do espetáculo “Não Olhe Agora”, apresentado em cidades como Rio de Janeiro, Paris, Marselha, Moulhouse, Strasbourg e Aurilac (2004/2007).
Ainda como ator, fez outros trabalhos como: Amor Consciente (1997) e Cinema Karamazovi (2002), Um Quarto de Crime e Castigo (2000/2002), Festa de Família (2010/11 e no filme curta-metragem Verdade ou Conseqüência (2001). No ano passado concorreu ao Prêmio Shell na categoria “Cenografia”, em Gramado com a peça e “As Horas entre nós”.
Começo na “terrinha”
Os primeiros passos de Joelson rumo à dramaturgia, começaram na sua própria “terrinha”. Sempre soube que queria trabalhar no teatro. Ele contou que “Tínhamos um público cativo, porque morávamos ao lado do Asilo Pai Abraão (Bairro São Vicente) e inventávamos as peças e apresentávamos as peças aos vovôs do asilo. Fazíamos até teatro de bonecos. Minha mãe, anos atrás, achou uma carta que eu escrevi para a minha avó falando que eu queria ser artista. Eu tinha oito anos quando escrevi”.
Segundo o ator, ele nunca teve a menor dúvida de que sua vida era o teatro. Que suas incursões em outras áreas aconteceram pura e simplesmente porque era um salto imenso para dar, saindo de Colatina e ir para uma cidade grande.
Enquanto estudava o segundo grau no Colégio Marista, ele participou do grupo de teatro do Colégio, que era dirigido pelo médico Francisco Schettino e a esposa Gilda (falecida), que eram o “Tio Chico” e “Tia Gilda”, para os alunos. “Lembra que fez duas peças com eles, “porque onde tinha oportunidade de haver um encontro com o teatro eu ia. Durante este tempo eu assisti a uns espetáculos que a Dra Marluce Tavares trouxe pra Colatina, e que aconteceram lá na Casa da Cultura”.
Argumenta que frisa isso “com muita força, porque não adianta falar que não tem espaços na cidade. Era capenga, mas funcionava e foi muito importante para mim. Nunca me esqueci do nome de uma peça _ “Um Piano sobre o meu coração” (de Alvarito Mendes) – pois acho que era a mesma coisa que eu sentia, um peso enorme sem poder tomar um rumo. O grupo veio apresentar a peça e também ministrou um workshop para os jovens de Colatina”.
Para ele, essas experiências, são a prova de que é na tenra idade que se fomenta uma carreira seja ela qual for. “Essas montagens amadoras eram a válvula de escape para varias pessoas que viam na arte uma possibilidade na vida”, explicou.
Durante esse tempo, Joelson disse que assistiu a alguns espetáculos que o grupo de teatro Doce Rio trouxe de Vitória para Colatina, e que foram apresentados na Casa da Cultura. O grupo montou entre várias peças, “Camaleão e as Batatas Mágicas”, de Maria Clara Machado; “Flicts”, de Ziraldo; e “Os Olhos Verdes da Neurose”, de José Expedito Marques. E revelou bons atores. Além de Joelson, também Carlos Roberto Comério, que mora no Rio de Janeiro desde os anos 90, e atua em televisão e teatro.
O colatinense chegou a estudar Artes Plásticas, na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), onde passou com 14 anos. Contou que não conseguiu ficar no curso, “porque era muita pressão de todos os lados. Só fiz Artes Plásticas porque não tinha teatro. Depois eu comecei o curso de Administração de Empresas na Facec (Faculdade de Ciências Econômicas de Colatina) onde fiquei dois anos e depois abandonei”.
Depois disso, foi para Viçosa (Minas Gerais) estudar Agronomia, onde ficou por dois anos e abandonou também. E foi aí que ele deu uma virada na sua vida, quando conheceu um grupo de estudantes “metidos a artistas, que faziam performances e peças ‘cabeça’, com o nome que diz tudo: Cia Philodramática Tertúlias ao Vento”, contou.
Ainda fez uma peça com o grupo e decidiu largar a Agronomia e investir em teatro. Foi fazer vestibular em Belo Horizonte e passou, mas não conseguiu fazer o curso, pois alega que era muito novo e a pressão familiar foi forte demais.
Saudades de Colatina
Joelson não mora em Colatina, mas sempre que pode não deixa de vir ver a família e os amigos. Pelo menos, três vezes por ano costuma vir visitar os pais Jandira e João, que depois de morar muito tempo na cidade hoje moram em um sítio; e as três irmãs: as duas de sangue, Joelma e Janaína, e a do coração, Michele.
Ele lamenta que muitos dos amigos não moram mais na cidade. “Não vou falar os nomes de todos os meus amigos, porque se eu esquecer de falar de algum deles, vai ter ciúme um do outro. Sinto muitas saudades de Colatina, dos amigos, da calma da cidade. Eu adoro cidade pequena”, revelou.
Sobre os planos futuros, disse que aprendeu que tem que ter uma meta, mas que não pode ficar agarrado a ela somente. “Tenho que ser maleável, porque os trabalhos vão aparecendo sabe-se lá de onde e isso é bom”.
Neste ano a Dragão Voador comemora 10 anos de trabalho continuado, e para comemorar, segundo ele, serão colocados em cartaz, de uma só vez, em novembro e dezembro, em São Paulo, quatro espetáculos, que serão uma mostra do repertório do grupo. No momento ele está preparando uma nova peça junto com os demais integrantes da Companhia, que será baseada no “MacBeth”, de Shakespeare. “Sinto que está na hora de investir em um clássico, embora eu vá virá-lo do avesso. Tenho certeza”, concluiu.
Foto: Paula Kossatz
Fonte: Saite da Prefeitura de Colatina
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