Índios Botocudos
Os índios Botocudos dominavam a extensa área de floresta do Rio Doce até São Mateus, no Norte do Estado, além de uma parte de Minas Gerais. Viviam em guerra com todos os seus vizinhos, inclusive com os da região de São Mateus, os Malalis, Cumanachos, Maconis, Machacalis, Panhames, Capuchos e Pataxós. Após três séculos da primeira entrada no rio Doce, ocorrida por volta de 1572, sob a chefia de Sebastião Fernandes Tourinho, rumo a Minas Gerais, ainda os Botocudos dominavam a região.
A denominação Botocudos foi dada aos Crenaques, Nac-nuc, Minia-jirunas, Gutcraques, Nac-requés, Pancas, Manhangiréns, Incutcrás, entre outros, pelos brancos, que observaram neles o uso característico do batoque ou botoque no lábio inferior ou nos lóbulos das orelhas. O batoque era uma rodela de madeira branca, geralmente de paineira ou barriguda, medindo até 12 centímetros de diâmetro, que depois de seca ao fogo, era introduzida por uma espécie de botão no lábio inferior e nos lóbulos das orelhas. Já por volta de sete a oito anos de idade, o pequeno índio começa a usar o batoque, que ia sendo trocado conforme o indiozinho ia crescendo.
Eles começaram a desaparecer a partir de 1921, com o rápido desenvolvimento de Colatina e a sua emancipação política do município de Linhares, ao qual pertencia, e a onda de povoamento da Região Norte, a partir da construção da Ponte Florentino Avidos, em 1928.
Colonização
Linhares e toda a região do vale do Rio Doce, em território capixaba, estavam ainda subordinadas, politicamente, ao município de Reis Magos, hoje Nova Almeida (município da Serra). Somente em 17 de março de 1827 foi concedida a Linhares uma área de terra para a constituição de seu patrimônio.
A 2 de abril de 1833, O Conselho da Província elevava a Freguesia de Linhares à categoria de Vila. Em 22 de agosto de 1833, foi empossada a Câmara Municipal de Linhares perante a de Reis Magos, realizando então sua primeira sessão. Data daí o início da vida político-administrativa de Linhares - município que abrangia extensa área do Baixo Rio Doce, até às divisas com Minas Gerais, penetrando ao norte até ao município de São Mateus. O atual território do município de Colatina, portanto, estava totalmente incluído nessa área.
Em 1832 começou a navegação no Rio Doce, com os vapores. Com a intensificação do movimento comercial pelo Rio Doce, entre Regência Augusta e o Porto do Souza, e estímulos oficiais, com maior povoamento nos extremos da linha, o interesse pela colonização da região intermediária surgiu alguns anos depois: a região onde se plantaria a futura cidade de Colatina seria palco da primeira tentativa de colonização organizada.
Em 1857, o engenheiro Nicolau Rodrigues dos Santos França Leite demarcou uma extensa área entre as barras dos rios São João e Pancas, dividindo-a em lotes nos quais instalaria colonos estrangeiros. Chamou sua colônia de Francilvânia _ nome que alguns chamavam Transilvânia e que acreditam ser a origem do atual bairro São Silvano, de Colatina, que fica do lado Norte da cidade. Trouxe no mesmo ano, portugueses, franceses e alemães para morar na colônia para trabalhar na agricultura. Mas as dificuldades com a região, o enfrentamento com os índios, as doenças tropicais e o clima não fizeram durar a colônia mais que três anos. As propriedades foram destruídas e as famílias massacradas pelos índios. E aí foi adiado o povoamento na região. Mas acredita-se que algum remanescente da colônia sobreviveu.
Entre 1861 e 1865, houve nova tentativa de colonização das terras em Baixo Guandu, que como Colatina também pertencia a Linhares. Cerca de 400 colonos norte-americanos, fugindo da Guerra da Secessão de seu país, foram instalados, mas não ficaram por muito tempo, pois também não se adaptaram à região. E o território continuava sem povoamento, à espera de uma onde pioneira.
Imigrantes
A partir de 1866, mineiros e fluminenses chegaram a Baixo Guandu, na região de Mascarenhas. Mas só a parir de 1889, que aconteceu a onda pioneira com a chegada de italianos, alemães e poloneses, por iniciativa dos primeiros povoadores fluminenses, Os Carvalho Milagres, de Cantagalo, Estado do Rio de Janeiro.
E a navegação no Rio Doce continuava, ligando Regência ao Guandu. Em 1876, italianos, alemães, suíços e poloneses, e também brasileiros, foram se instalando em lotes em Santa Teresa, rumo ao rio Doce, formando propriedades agrícolas. Em 1888, já era elevada à Vila a antiga sede do Núcleo Colonial "Senador Antonio Prado", passando esta para as margens do rio Santa Maria do Rio Doce, logo abaixo da barra do rio Mutum. Estava nascendo o povoado de Mutum, hoje Boapaba. O novo Núcleo "Antonio Prado" já estava com seus lotes demarcados pelo engenheiro Gabriel Emílio da Costa, então chefe da Comissão de Colonização.
Os primeiros italianos chegaram em 1888 no vapor "Adria"; os pioneiros da famílias Bernardina, Belei, Bertolo, Contadini, Caliari, Ferrari, Corradi, Cozzer, Ferreguetti, Germano, Leoni, Negrelli, Pauletti, Parpaiola, Perazini, Saquetti, Sian, Soela, Zanotelli, Piecker, Vargato e Werf.
Dos diversos povoados que formavam o Núcleo "Antonio Prado", um ficou mais conhecido, o "Barracão de Santa Maria" devido a facilidades de comunicação fluvial com outros povoados, de Baixo Guandu a Linhares e Regência Augusta.
Depois chegaram mais duas levas de italianos, mais uma em 1888 e uma em 1889. Em 1890, foi instalado um "barracão" para o Governo, no bairro Colatina Velha, localizado atrás da igreja de São Sebastião. Em 1892, é que começaram a ser construídas as primeiras casas da cidade de Colatina, uma delas na propriedade Dallapícola, próximo à Escola Conde de Linhares, onde se instalou o primeiro comerciante, Napoleão Bonaparte. Entre os primeiros habitantes da cidade de Colatina, estão Felizardo Gonçalves Penna, Napoleão Bonaparte, Manoel da Passagem, Nogueira, Wotkoski, Pranz Ponche, Alfredo Schneider e o austríado e padeiro, Vicente Pidner. Em 1893, Ivo Santana, Antonio Engrácio da Silva, entre outros.
Em 1894, mais imigrantes chegam para morar em barracões, nas margens do Rio Doce, mas devido a uma epidemia de impaludismo, causada por uma enchente do Rio, com muitas vítimas fatais, os sobreviventes procuraram outros Núcleos, entre eles, o "Antonio Prado", do distrito de Boapaba. Na época se instalaram os Acerbi, Arpini, bendinelli, Benedetti, Barachi, Bertoni, Bernardina, Bongiovani, Brumatti, Buscaglia, Brocco, Campanha, Capelli, Cappi, Chieppe, Cherotto, Corona, Corsini, Contadini, Corradi, Dallapícola, Delacqua, D´Isep, Dona, Fachetti, Farini, Faroni, Frechiani, Franzotti, Favoretti, Ferrari, Fidelon, Foletto, Forza, Gagno, Gabrielli, Gallo, Galletti, Galimberti, Gava, Giacomin, Gatti, Girondolli, Giuberti, Giurizatto, Gobbi, Juliatti, Lavagnoli, Linhalis, Maestri, Margotto, Mantovani, Marchesini, Marino, Martinelli, Meneghatti, Meneghelli, Mignoni, Nardi, Negrelli, Néri, Pagani, Pecorari, Perini, Pandini, Piccin, Prestini, Pretti, Quinzan, Ribon, Romano, Romagna, Rossoni, Sabaini, Serafini, Scarton, Schettini, Signorelli, Spelta, Sperandio, Torezani, Transpadini, Vago, Vitali, Zanotelli e Zanotti.
Também constam de pioneiros brasileiros José Hermann Belo, Coronel Arthur Coutinho de Alvarenga, Antonio de Souza Brito e o mineiro José Gonçalves.
O Barracão do Rio Santa Maria, em Colatina Velha, cresceu e se tornou um povoado, levantado pelos imigrantes liderados pelo engenheiro Gabriel Emílio da Costa.
O distrito de Baunilha começou quase que na mesma época do Barracão de Santa Maria, principalmente após a implantação, em 1906, da Ferrovia Vitória a Minas, tendo como pioneiros os Campostrini, Crema, Buscaglia, Coppo, Garozi, Gardano, Gaviorno, Gobetti, Mantovani, Morandi, Remo, Rossi, Romano, Stefenoni, Vago, entre outros. E ainda um grupo de poloneses e alemães.
Em 9 de dezembro de 1899, o povoado de Colatina Velha recebe o nome de Vila de Colatina, subordinado ao município de Linhares, em homenagem à dona Colatina, esposa do então presidente do Estado, Muniz Freire.
O povoamento do Vale do Rio Santa Joana, se deu por alemães e italianos. Em Itapina, na barra do Rio Lajes, ao sul do Rio Doce, os imigrantes eram alemães e italianos e brasileiros de Minas Gerais, como Osvaldo Costa e Antonio Felisberto. Em 1907 foi construída a Estação da Ferrovia mas o desenvolvimento do povoado, que se chamou "ita", se deu a partir de 1915, principalmente após a chegada do Coronel João Albuquerque, em 1919. Os pioneiros italianos foram os Binda, Castiglioni, Becalli, Pavan e Lauretti.
Vila de Colatina, emancipação e revolta
As florestas do Norte do Rio Doce continuavam despovoadas. A Vila de Colatina continuou crescendo. Tinha a sua padaria, sua escola, com a professora Andrelina Pereira, e o comércio prosperava. A Vila ganhava cada vez mais importância, principalmente a partir de 20 de dezembro de 1906 quando a Estrada de Ferro Diamantina, hoje Vitória a Minas, inaugurou a estação, e foi iniciada a comunicação direta com Vitória. A crescente vida econômica de Colatina abalou Linhares, tanto administrativa, quanto politicamente. Todo o comércio de grande parte de Minas Gerais e do Espírito Santo, que era feito em Linhares, passou a ser feito em Colatina.
E aí é que surge um movimento em favor de Colatina, liderado pelo Coronel Alexandre Calmon, "o Professor Xandoca", que fez com que Colatina passasse a ser a sede do município, transportando todos os arquivos para Colatina. Em 1907, Colatina torna-se, legalmente, a sede do município, que anteriormente era Linhares. Colatina continuava como Vila, com a Câmara Municipal de Linhares e a sede da Comarca com todo o aparelhamento judiciário.
Linhares continuava a ser a sede do município e da Comarca, apenas nominalmente. Toda a sua administração concentrava-se em Colatina. Com a Revolta do Professor Xandoca, parentes dele passaram a morar em Colatina, exercendo liderança política, como Virgínio Calmon Ferreira Fernandes, que foi o primeiro prefeito do município, em 1921, Xenócrates Calmon de Aguiar e Augusto Pedrinha Du Pin Calmon, pai do ex-senador colatinense João de Medeiros Calmon.
A 30 de dezembro de 1921 foi criado o município de Colatina, separado de Linhares, com território que compreendia toda a área então pertencente ao município de Linhares. Linhares acabava de perder sua categoria de sede municipal, passando a ser Vila subordinada a Colatina. Só em 1945 é que Linhares foi desmembrado de Colatina.
Mesmo o dia 30 de dezembro sendo o verdadeiro dia do aniversário de emancipação política do município de Colatina, as comemorações do aniversário do município acontecem no dia 22 de agosto, dia do aniversário de Linhares.
Dona Colatina
Dona Colatina era paulista, nascida a 24 de novembro de 1864. Era filha de Sebastião José Rodrigues de Azevedo e de dona Colatina Soares de Azevedo, filha do capitão Joaquim Celestino de Abreu Soares, Barão de Paranapanema, e de sua primeira esposa dona Joaquina Angélica de Oliveira, descendente do cavaleiro fidalgo da casa de el-rei de Portugal, D. João III, que foi Antonio de Oliveira, 1º Feitor da Fazenda Real da Capitania de São Vicente, por mercê real de 1537, loco-tenente do donatário Martim Afonso de Souza.
Era uma bela jovem e já solteira dominava os idiomas alemão, francês e italiano. Também aprendeu música com um dos maestros mais famosos da época, Girondon, e participou cantando de muitos saraus nos palácios em São Paulo, na administração do então governador (presidente do Estado) Florêncio de Abreu.
O casamento aconteceu em 28 de janeiro de 1882, com José de Melo Carvalho Muniz Freire, que participou da política capixaba tão intensamente que acabou tornando-se presidente do Estado por duas vezes, de 1892 a 1896 e de 1900 a 1904. Tiveram 10 filhos: Izilda, José de Mello Carvalho Muniz Freire Filho, Alarico, Átila, Genserico, Olga, Dora, Ragadázio, Manoel e Ilma.
Foi homenageada com o nome à Vila de Colatina, a 9 de dezembro de 1899, pelo desembargador Afonso Cláudio. Em discurso, ele disse: "Esta homenagem à paulista, certamente, tornará próspera a futura cidade".
UMA MEDALHINHA DE SORTE
A revista do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo (IHGES), de 1961 e 1963, em homenagem ao centenário de aniversário de Muniz Freire, publicou uma história sobre ele e Dona Colatina. É um discurso, no IHGES, de José Paulino Alves:
"Dona Colatina, sua virtuosa consorte, mulher de progênie ilustre, de boa cepa, vinda de São Paulo, era católica... Não muito apegada ao culto; mas católica, sobretudo, por tradição de família.
Na vida dela, sempre escorreita, e já, agora, enobrecida, na vivência conjugal, não haveria jamais passado, quente e maléfico, influxo da descrença. Vida sempre adornada de virtudes, desde os tempos de colégio, nunca sofreram o assédio da dúvida, que atormenta. Católica; educada no temor de Deus, que, como é das letras sagradas, se insinua feito princípio da sabedoria, (initium sapientiae, timor domini) - Dona Colatina, vez nenhuma tivera hesitações... Carola não! Nada de apego à má parte, aos excessos de devoção; mas, em tudo, muito equilíbrio, como grande mulher paulistana que o era.
Possível fora que jamais sofresse as crises interiores, - crer ou deixar de crer _ nesse estado de inquietação possível, que maltrataram sempre, com uma ou outra das alternativas... Às vezes, a cultura ocorre, como processo desagregador. E dói, dói muito... Ma era católica. Católica, desde o berço. Era católica, e católica continuava a ser... Havia um dia, no ano em que não deixava de ir à igreja: adoração do Santíssimo (Quinta-feira Santa).
Dona Colatina tinha uma medalhinha da Virgem, medalhinha toda de ouro maciço, presente da avozinha dela. Quando o Dr. Muniz Freire viajava, fazia questão que levasse consigo essa peça de metal, intrínseca e extrínsecamente preciosa, para o proteger. O Dr. Muniz Freire sempre dizia que sim. Assentia, sempre a sorrir. E, quando voltava das viagens, que, quase sempre, eram de curta duração, não deixava de dar benevolente grado à fortuna; graças à fé, aquela fé, afervorada e bela, sempre o céu se lhe mostraram propício.E, como era nobre, corretíssimo, na maneira de agradecer à espôsa tanta ternura e tantos cuidados!
Duma feita, porém, saiu com o Dr. Inácio F. de Oliveira, para inspeção às obras da Estrada de Ferro Sul do Espírito Santo, fulgurante iniciativa do seu governo. Esquecera-se de pedir a medalhinha... Já quando se encontrava no Cais do Imperador, para tomar o barco que o devia transportar ao continente, eis que lhe vem à lembrança... E a medalhinha? Mas Dona Colatina não houvera esquecido: trazia-a consigo. Entregou-lhe. E, beijando-a com enternecido afeto, o Dr. Muniz Freire modalizou a voz na inflexão necessária à ênfase do que dizia:
- És santa, Colatina! Santa Colatina, sem dúvida!
Era assim o Dr. Muniz Freire; homem que a natureza singularizou de dons; era assim à Littré: culto, nobre, delicado..."
CARTA DO FILHO RAGADÁZIO SOBRE A HISTÓRIA DA MEDALHINHA DE DONA COLATINA
Ainda segundo a revista do IHGES, "o filho de Dona Colatina e Muniz Freire, Ragadázio, escreve uma carta ao Dr. José Paulino Alves. Ele faz várias observações sobre o conteúdo do discurso, entre elas, a do episódio da medalha: (1º, 2º ...)
3º - Quanto "ao episódio", por si narrado, da medalhinha da Virgem, era por mim desconhecida, o mesmo acontecendo com todos os meus irmãos, que por mim consultados, igualmente, o ignoravam.
Desejaria saber a fonte em que se inspirou a sua narração.
4º - dia em que, anualmente, minha mãe comparecia {à Igreja, era o dia 19 de março, porque nele praticava uma tríplice homenagem: a) ao padroeiro do dia; b) ao marido, cujo nome era José; c) à memória de seu pai por haver este falecido a 19 de março de a882. Devo acrescentar que no fim da vida, não perdia a Missa aos domingos;
5º - A minha avó, tinha o nome de Colatina. Ela é que, todas as quintas-feiras, ir à igreja "guardar o santíssimo, não tendo ,entretanto, por obrigatório o seu comparecimento aos domingos."
Entretanto, em Post scriptum, acrescenta: "A minha irmã Dora disse ter conhecimento do episódio da medalha, por a ter ouvido".
(Fonte: saite da Prefeitura de Colatina)
Os índios Botocudos dominavam a extensa área de floresta do Rio Doce até São Mateus, no Norte do Estado, além de uma parte de Minas Gerais. Viviam em guerra com todos os seus vizinhos, inclusive com os da região de São Mateus, os Malalis, Cumanachos, Maconis, Machacalis, Panhames, Capuchos e Pataxós. Após três séculos da primeira entrada no rio Doce, ocorrida por volta de 1572, sob a chefia de Sebastião Fernandes Tourinho, rumo a Minas Gerais, ainda os Botocudos dominavam a região.
A denominação Botocudos foi dada aos Crenaques, Nac-nuc, Minia-jirunas, Gutcraques, Nac-requés, Pancas, Manhangiréns, Incutcrás, entre outros, pelos brancos, que observaram neles o uso característico do batoque ou botoque no lábio inferior ou nos lóbulos das orelhas. O batoque era uma rodela de madeira branca, geralmente de paineira ou barriguda, medindo até 12 centímetros de diâmetro, que depois de seca ao fogo, era introduzida por uma espécie de botão no lábio inferior e nos lóbulos das orelhas. Já por volta de sete a oito anos de idade, o pequeno índio começa a usar o batoque, que ia sendo trocado conforme o indiozinho ia crescendo.
Eles começaram a desaparecer a partir de 1921, com o rápido desenvolvimento de Colatina e a sua emancipação política do município de Linhares, ao qual pertencia, e a onda de povoamento da Região Norte, a partir da construção da Ponte Florentino Avidos, em 1928.
Colonização
Linhares e toda a região do vale do Rio Doce, em território capixaba, estavam ainda subordinadas, politicamente, ao município de Reis Magos, hoje Nova Almeida (município da Serra). Somente em 17 de março de 1827 foi concedida a Linhares uma área de terra para a constituição de seu patrimônio.
A 2 de abril de 1833, O Conselho da Província elevava a Freguesia de Linhares à categoria de Vila. Em 22 de agosto de 1833, foi empossada a Câmara Municipal de Linhares perante a de Reis Magos, realizando então sua primeira sessão. Data daí o início da vida político-administrativa de Linhares - município que abrangia extensa área do Baixo Rio Doce, até às divisas com Minas Gerais, penetrando ao norte até ao município de São Mateus. O atual território do município de Colatina, portanto, estava totalmente incluído nessa área.
Em 1832 começou a navegação no Rio Doce, com os vapores. Com a intensificação do movimento comercial pelo Rio Doce, entre Regência Augusta e o Porto do Souza, e estímulos oficiais, com maior povoamento nos extremos da linha, o interesse pela colonização da região intermediária surgiu alguns anos depois: a região onde se plantaria a futura cidade de Colatina seria palco da primeira tentativa de colonização organizada.
Em 1857, o engenheiro Nicolau Rodrigues dos Santos França Leite demarcou uma extensa área entre as barras dos rios São João e Pancas, dividindo-a em lotes nos quais instalaria colonos estrangeiros. Chamou sua colônia de Francilvânia _ nome que alguns chamavam Transilvânia e que acreditam ser a origem do atual bairro São Silvano, de Colatina, que fica do lado Norte da cidade. Trouxe no mesmo ano, portugueses, franceses e alemães para morar na colônia para trabalhar na agricultura. Mas as dificuldades com a região, o enfrentamento com os índios, as doenças tropicais e o clima não fizeram durar a colônia mais que três anos. As propriedades foram destruídas e as famílias massacradas pelos índios. E aí foi adiado o povoamento na região. Mas acredita-se que algum remanescente da colônia sobreviveu.
Entre 1861 e 1865, houve nova tentativa de colonização das terras em Baixo Guandu, que como Colatina também pertencia a Linhares. Cerca de 400 colonos norte-americanos, fugindo da Guerra da Secessão de seu país, foram instalados, mas não ficaram por muito tempo, pois também não se adaptaram à região. E o território continuava sem povoamento, à espera de uma onde pioneira.
Imigrantes
A partir de 1866, mineiros e fluminenses chegaram a Baixo Guandu, na região de Mascarenhas. Mas só a parir de 1889, que aconteceu a onda pioneira com a chegada de italianos, alemães e poloneses, por iniciativa dos primeiros povoadores fluminenses, Os Carvalho Milagres, de Cantagalo, Estado do Rio de Janeiro.
E a navegação no Rio Doce continuava, ligando Regência ao Guandu. Em 1876, italianos, alemães, suíços e poloneses, e também brasileiros, foram se instalando em lotes em Santa Teresa, rumo ao rio Doce, formando propriedades agrícolas. Em 1888, já era elevada à Vila a antiga sede do Núcleo Colonial "Senador Antonio Prado", passando esta para as margens do rio Santa Maria do Rio Doce, logo abaixo da barra do rio Mutum. Estava nascendo o povoado de Mutum, hoje Boapaba. O novo Núcleo "Antonio Prado" já estava com seus lotes demarcados pelo engenheiro Gabriel Emílio da Costa, então chefe da Comissão de Colonização.
Os primeiros italianos chegaram em 1888 no vapor "Adria"; os pioneiros da famílias Bernardina, Belei, Bertolo, Contadini, Caliari, Ferrari, Corradi, Cozzer, Ferreguetti, Germano, Leoni, Negrelli, Pauletti, Parpaiola, Perazini, Saquetti, Sian, Soela, Zanotelli, Piecker, Vargato e Werf.
Dos diversos povoados que formavam o Núcleo "Antonio Prado", um ficou mais conhecido, o "Barracão de Santa Maria" devido a facilidades de comunicação fluvial com outros povoados, de Baixo Guandu a Linhares e Regência Augusta.
Depois chegaram mais duas levas de italianos, mais uma em 1888 e uma em 1889. Em 1890, foi instalado um "barracão" para o Governo, no bairro Colatina Velha, localizado atrás da igreja de São Sebastião. Em 1892, é que começaram a ser construídas as primeiras casas da cidade de Colatina, uma delas na propriedade Dallapícola, próximo à Escola Conde de Linhares, onde se instalou o primeiro comerciante, Napoleão Bonaparte. Entre os primeiros habitantes da cidade de Colatina, estão Felizardo Gonçalves Penna, Napoleão Bonaparte, Manoel da Passagem, Nogueira, Wotkoski, Pranz Ponche, Alfredo Schneider e o austríado e padeiro, Vicente Pidner. Em 1893, Ivo Santana, Antonio Engrácio da Silva, entre outros.
Em 1894, mais imigrantes chegam para morar em barracões, nas margens do Rio Doce, mas devido a uma epidemia de impaludismo, causada por uma enchente do Rio, com muitas vítimas fatais, os sobreviventes procuraram outros Núcleos, entre eles, o "Antonio Prado", do distrito de Boapaba. Na época se instalaram os Acerbi, Arpini, bendinelli, Benedetti, Barachi, Bertoni, Bernardina, Bongiovani, Brumatti, Buscaglia, Brocco, Campanha, Capelli, Cappi, Chieppe, Cherotto, Corona, Corsini, Contadini, Corradi, Dallapícola, Delacqua, D´Isep, Dona, Fachetti, Farini, Faroni, Frechiani, Franzotti, Favoretti, Ferrari, Fidelon, Foletto, Forza, Gagno, Gabrielli, Gallo, Galletti, Galimberti, Gava, Giacomin, Gatti, Girondolli, Giuberti, Giurizatto, Gobbi, Juliatti, Lavagnoli, Linhalis, Maestri, Margotto, Mantovani, Marchesini, Marino, Martinelli, Meneghatti, Meneghelli, Mignoni, Nardi, Negrelli, Néri, Pagani, Pecorari, Perini, Pandini, Piccin, Prestini, Pretti, Quinzan, Ribon, Romano, Romagna, Rossoni, Sabaini, Serafini, Scarton, Schettini, Signorelli, Spelta, Sperandio, Torezani, Transpadini, Vago, Vitali, Zanotelli e Zanotti.
Também constam de pioneiros brasileiros José Hermann Belo, Coronel Arthur Coutinho de Alvarenga, Antonio de Souza Brito e o mineiro José Gonçalves.
O Barracão do Rio Santa Maria, em Colatina Velha, cresceu e se tornou um povoado, levantado pelos imigrantes liderados pelo engenheiro Gabriel Emílio da Costa.
O distrito de Baunilha começou quase que na mesma época do Barracão de Santa Maria, principalmente após a implantação, em 1906, da Ferrovia Vitória a Minas, tendo como pioneiros os Campostrini, Crema, Buscaglia, Coppo, Garozi, Gardano, Gaviorno, Gobetti, Mantovani, Morandi, Remo, Rossi, Romano, Stefenoni, Vago, entre outros. E ainda um grupo de poloneses e alemães.
Em 9 de dezembro de 1899, o povoado de Colatina Velha recebe o nome de Vila de Colatina, subordinado ao município de Linhares, em homenagem à dona Colatina, esposa do então presidente do Estado, Muniz Freire.
O povoamento do Vale do Rio Santa Joana, se deu por alemães e italianos. Em Itapina, na barra do Rio Lajes, ao sul do Rio Doce, os imigrantes eram alemães e italianos e brasileiros de Minas Gerais, como Osvaldo Costa e Antonio Felisberto. Em 1907 foi construída a Estação da Ferrovia mas o desenvolvimento do povoado, que se chamou "ita", se deu a partir de 1915, principalmente após a chegada do Coronel João Albuquerque, em 1919. Os pioneiros italianos foram os Binda, Castiglioni, Becalli, Pavan e Lauretti.
Vila de Colatina, emancipação e revolta
As florestas do Norte do Rio Doce continuavam despovoadas. A Vila de Colatina continuou crescendo. Tinha a sua padaria, sua escola, com a professora Andrelina Pereira, e o comércio prosperava. A Vila ganhava cada vez mais importância, principalmente a partir de 20 de dezembro de 1906 quando a Estrada de Ferro Diamantina, hoje Vitória a Minas, inaugurou a estação, e foi iniciada a comunicação direta com Vitória. A crescente vida econômica de Colatina abalou Linhares, tanto administrativa, quanto politicamente. Todo o comércio de grande parte de Minas Gerais e do Espírito Santo, que era feito em Linhares, passou a ser feito em Colatina.
E aí é que surge um movimento em favor de Colatina, liderado pelo Coronel Alexandre Calmon, "o Professor Xandoca", que fez com que Colatina passasse a ser a sede do município, transportando todos os arquivos para Colatina. Em 1907, Colatina torna-se, legalmente, a sede do município, que anteriormente era Linhares. Colatina continuava como Vila, com a Câmara Municipal de Linhares e a sede da Comarca com todo o aparelhamento judiciário.
Linhares continuava a ser a sede do município e da Comarca, apenas nominalmente. Toda a sua administração concentrava-se em Colatina. Com a Revolta do Professor Xandoca, parentes dele passaram a morar em Colatina, exercendo liderança política, como Virgínio Calmon Ferreira Fernandes, que foi o primeiro prefeito do município, em 1921, Xenócrates Calmon de Aguiar e Augusto Pedrinha Du Pin Calmon, pai do ex-senador colatinense João de Medeiros Calmon.
A 30 de dezembro de 1921 foi criado o município de Colatina, separado de Linhares, com território que compreendia toda a área então pertencente ao município de Linhares. Linhares acabava de perder sua categoria de sede municipal, passando a ser Vila subordinada a Colatina. Só em 1945 é que Linhares foi desmembrado de Colatina.
Mesmo o dia 30 de dezembro sendo o verdadeiro dia do aniversário de emancipação política do município de Colatina, as comemorações do aniversário do município acontecem no dia 22 de agosto, dia do aniversário de Linhares.
Dona Colatina
Dona Colatina era paulista, nascida a 24 de novembro de 1864. Era filha de Sebastião José Rodrigues de Azevedo e de dona Colatina Soares de Azevedo, filha do capitão Joaquim Celestino de Abreu Soares, Barão de Paranapanema, e de sua primeira esposa dona Joaquina Angélica de Oliveira, descendente do cavaleiro fidalgo da casa de el-rei de Portugal, D. João III, que foi Antonio de Oliveira, 1º Feitor da Fazenda Real da Capitania de São Vicente, por mercê real de 1537, loco-tenente do donatário Martim Afonso de Souza.
Era uma bela jovem e já solteira dominava os idiomas alemão, francês e italiano. Também aprendeu música com um dos maestros mais famosos da época, Girondon, e participou cantando de muitos saraus nos palácios em São Paulo, na administração do então governador (presidente do Estado) Florêncio de Abreu.
O casamento aconteceu em 28 de janeiro de 1882, com José de Melo Carvalho Muniz Freire, que participou da política capixaba tão intensamente que acabou tornando-se presidente do Estado por duas vezes, de 1892 a 1896 e de 1900 a 1904. Tiveram 10 filhos: Izilda, José de Mello Carvalho Muniz Freire Filho, Alarico, Átila, Genserico, Olga, Dora, Ragadázio, Manoel e Ilma.
Foi homenageada com o nome à Vila de Colatina, a 9 de dezembro de 1899, pelo desembargador Afonso Cláudio. Em discurso, ele disse: "Esta homenagem à paulista, certamente, tornará próspera a futura cidade".
UMA MEDALHINHA DE SORTE
A revista do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo (IHGES), de 1961 e 1963, em homenagem ao centenário de aniversário de Muniz Freire, publicou uma história sobre ele e Dona Colatina. É um discurso, no IHGES, de José Paulino Alves:
"Dona Colatina, sua virtuosa consorte, mulher de progênie ilustre, de boa cepa, vinda de São Paulo, era católica... Não muito apegada ao culto; mas católica, sobretudo, por tradição de família.
Na vida dela, sempre escorreita, e já, agora, enobrecida, na vivência conjugal, não haveria jamais passado, quente e maléfico, influxo da descrença. Vida sempre adornada de virtudes, desde os tempos de colégio, nunca sofreram o assédio da dúvida, que atormenta. Católica; educada no temor de Deus, que, como é das letras sagradas, se insinua feito princípio da sabedoria, (initium sapientiae, timor domini) - Dona Colatina, vez nenhuma tivera hesitações... Carola não! Nada de apego à má parte, aos excessos de devoção; mas, em tudo, muito equilíbrio, como grande mulher paulistana que o era.
Possível fora que jamais sofresse as crises interiores, - crer ou deixar de crer _ nesse estado de inquietação possível, que maltrataram sempre, com uma ou outra das alternativas... Às vezes, a cultura ocorre, como processo desagregador. E dói, dói muito... Ma era católica. Católica, desde o berço. Era católica, e católica continuava a ser... Havia um dia, no ano em que não deixava de ir à igreja: adoração do Santíssimo (Quinta-feira Santa).
Dona Colatina tinha uma medalhinha da Virgem, medalhinha toda de ouro maciço, presente da avozinha dela. Quando o Dr. Muniz Freire viajava, fazia questão que levasse consigo essa peça de metal, intrínseca e extrínsecamente preciosa, para o proteger. O Dr. Muniz Freire sempre dizia que sim. Assentia, sempre a sorrir. E, quando voltava das viagens, que, quase sempre, eram de curta duração, não deixava de dar benevolente grado à fortuna; graças à fé, aquela fé, afervorada e bela, sempre o céu se lhe mostraram propício.E, como era nobre, corretíssimo, na maneira de agradecer à espôsa tanta ternura e tantos cuidados!
Duma feita, porém, saiu com o Dr. Inácio F. de Oliveira, para inspeção às obras da Estrada de Ferro Sul do Espírito Santo, fulgurante iniciativa do seu governo. Esquecera-se de pedir a medalhinha... Já quando se encontrava no Cais do Imperador, para tomar o barco que o devia transportar ao continente, eis que lhe vem à lembrança... E a medalhinha? Mas Dona Colatina não houvera esquecido: trazia-a consigo. Entregou-lhe. E, beijando-a com enternecido afeto, o Dr. Muniz Freire modalizou a voz na inflexão necessária à ênfase do que dizia:
- És santa, Colatina! Santa Colatina, sem dúvida!
Era assim o Dr. Muniz Freire; homem que a natureza singularizou de dons; era assim à Littré: culto, nobre, delicado..."
CARTA DO FILHO RAGADÁZIO SOBRE A HISTÓRIA DA MEDALHINHA DE DONA COLATINA
Ainda segundo a revista do IHGES, "o filho de Dona Colatina e Muniz Freire, Ragadázio, escreve uma carta ao Dr. José Paulino Alves. Ele faz várias observações sobre o conteúdo do discurso, entre elas, a do episódio da medalha: (1º, 2º ...)
3º - Quanto "ao episódio", por si narrado, da medalhinha da Virgem, era por mim desconhecida, o mesmo acontecendo com todos os meus irmãos, que por mim consultados, igualmente, o ignoravam.
Desejaria saber a fonte em que se inspirou a sua narração.
4º - dia em que, anualmente, minha mãe comparecia {à Igreja, era o dia 19 de março, porque nele praticava uma tríplice homenagem: a) ao padroeiro do dia; b) ao marido, cujo nome era José; c) à memória de seu pai por haver este falecido a 19 de março de a882. Devo acrescentar que no fim da vida, não perdia a Missa aos domingos;
5º - A minha avó, tinha o nome de Colatina. Ela é que, todas as quintas-feiras, ir à igreja "guardar o santíssimo, não tendo ,entretanto, por obrigatório o seu comparecimento aos domingos."
Entretanto, em Post scriptum, acrescenta: "A minha irmã Dora disse ter conhecimento do episódio da medalha, por a ter ouvido".
(Fonte: saite da Prefeitura de Colatina)
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